Trilha sonora

sábado, 29 de outubro de 2011

OS ASSASSINATOS NA RUA MORGUE & A CARTA ROUBADA - EDGAR ALLAN POE




AVISO:


ESTA RESENHA CONTÉM SPOILER!!! NÃO LEIA, CASO DESEJE CONHECER A OBRA POSTERIORMENTE!


Não sou chegada a fazer resenhas contendo SPOILER, mas neste caso, para que meus comentários fizessem sentido, fui obrigada a quebrar minhas próprias regras.

Este foi o primeiro trabalho de Edgar Allan Poe que chegou às minhas mãos. É um livro pocket e que contém somente dois contos, cujos títulos estão referenciados acima. Perfeito para quem não quer perder horas em leituras muito elaboradas e longas. Mas, mesmo sendo um livro de pouco mais de 90 páginas, o escritor americano consegue ser profundo em alguns trechos. Eu achei isto bem interessante, pois sair do superficial em contos, especialmente policiais, não é algo tão fácil de se fazer.

Agora começo o SPOILER:

o primeiro conto me agradou mais e retrata dois possiveis assassinatos de mãe e filha, que moravam solitárias em uma casa de 4 andares na Rua Morgue. Vizinhos ouvem gritos e vozes estranhas às das moradoras e correm para ver o que ocorre com tão pacatas mulheres. Eles conseguem distinguir a voz áspera de um francês (e nisto as várias testemunhas são praticamente unânimes) e outra voz estridente, de um estrangeiro, porém proferindo palavras impossíveis de serem compreendidas. E em relação a esta segunda voz, as diversas testemunhas, reparem, de nacionalidades também diferenciadas, entram em conflito ao definirem-na: cada um sugere que a voz seja de determinada nacionalidade (italiana, russa, inglesa, etc), porém sequer conhecem o idioma ao qual se referem. E isto já me chamou atenção!

Então, ao chegarem ao 4º andar, se deparam com o horror: o quarto todo quebrado, nenhum objeto de valor subtraído e o corpo da filha atolado em uma chaminé, tendo sido necessária a força de várias testemunhas para conseguirem retirar o cadáver dali. No quintal, o corpo mutilado da mãe, com a cabeça quase cortada completamente, que cai quando tão somente mexem no cadáver. Fora o clichê das antigas tramas policiais: o quarto trancado por dentro, janelas trancadas e sem os suspeitos em seu interior... Agatha Christie adorava isto também. Mas, para tudo sempre existe uma explicação racional e Allan Poe tem este traço marcante: a lógica!

Mas, logo em seguida, outra coisa me chama atenção (página 29/30) e vou transcrevê-la, para entenderem melhor:

Nunca um assassinato tão misterioso, tão intrigante em todos os seus pormenores, foi cometido antes em Paris - se é que se trata de um assassinato. (negrito meu).

Claro ficou pra mim, que o escritor deu uma pista importantíssima para o leitor. O que poderia ser aquela cena de horror, senão assassinatos? Suicídios? E quem teria enfiado o corpo de cabeça para baixo da filha, em uma chaminé super estreita? A velha senhora? Se para retirar o cadáver foram necessários cerca de 3 homens... Não creio! A filha teria matado a mãe e depois se matado? Seu espírito teria escondido o próprio cadáver na chaminé? Não né! E as vozes que as pessoas ouviram?

Então, óbvio que as duas mulheres foram mortas brutalmente. Mas por que o autor põe em dúvida a questão assassinato? Imediatamente me recordei das aulas de Direito Penal, onde aprendemos que o homicídio só pode ser perpetrado por um ser humano contra outro ser humano. Depois disto, algum de vocês conseguiu desconfiar do que o autor, e agora esta signatária, falam? Vocês não acreditam que ele fez aquele comentário à toa, não é? Se elas não se mataram e tampouco foram vítimas de acidentes domésticos... (fora que ele comenta sobre a força brutal e ferocidade dos crimes, que não se enquadraria no mais pervertido dos criminosos), quem ou o quê lhes ceifou as vidas? Naquela época não existiam andróides! Um animal, não é mesmo? E eu acertei em cheio... A voz estridente era de um orangotango feroz que escapara de seu dono. Este, um marinheiro, havia perseguido o animal e presenciou as mortes, nada podendo fazer.

Gostei, pois foi original. Embora, na minha opinião, Allan Poe tenha sido bonzinho demais ao dar de bandeja a autoria do crime para o leitor. Ao contrário de Agatha Christie, que praticamente torna isto impossível, ele foi camarada demais, rsrsrs.

Em relação ao segundo conto, eu pude ter certeza de algo que suspeitei desde o anterior: os americanos adoram menosprezar os internacionais; eles sempre são os melhores, aqueles que enxergam até o que o deus Hélio não consegue! O personagem Dupin, que é o curioso que sempre desvenda os mistérios e deixa o Chefe de Polícia com cara de bobo, volta e meia dá um jeito de dizer que a polícia parisiense é astuta, que utiliza de excelentes meios e técnicas, mas... e aí ele, numa nítida técnica do sanduíche, ele simplesmente coloca os policiais parisienses como ingênuos. E ele, claro, o f**ão! Allan Poe era americano e, posso estar enganada, percebi em vários pontos (e olha que é um conto, hein!), seu preconceito, ou melhor, ares de superioridade em relação aos europeus. Não curti isto.

Esta segunta trama, resumidamente, é sobre uma carta furtada por um político, que o deixa em vantagem sobre uma senhora pública e ele começa a chantageá-la. Os argumentos de Dupin, ao revelar como conseguiu recuperar a carta, têm lógica, mas mesmo assim eu achei que ele forçou um pouco a barra. Foi meio sem sal.

Algumas pessoas não gostam de escritores que narram em primeira pessoa, como Edgar Allan Poe faz, mas isto pra mim é indiferente. Eu até que gostei de sua narrativa, embora pareça mais um monólogo em certas partes. Quando Dupin começa...

Agora, um alerta aos tradutores, que eu vou fazer sim, pois quando é um escritor nacional e desconhecido que comete o mesmo tipo de deslize, só faltam crucificar a criatura. E sabemos que o sucesso de obras internacionais, também se deve, em parte, a traduções de qualidade. Página 67:

O endereço, contudo, estava voltado para cima, e estando o conteúdo escondido, a carta passou desapercebida. (negrito meu).

O correto seria "despercebida", que significa: "que não se viu ou não se ouviu".; a palavra utilizada significa outra coisa: "desprevenida, desprovida".

Não posso formar, ainda, uma opinião completa sobre o escritor, pois teria que conhecer mais textos seus. Porém, considerei estes dois contos boas leituras, com as devidas ressalvas. No Skoob, avaliei com 3 estrelas, pois apesar de ter gostado, não me impressionou tanto. Mesmo assim, vale à pena conferir!

sábado, 22 de outubro de 2011

Uma romancista policial romântica é a Bianca Carvalho!


Romance policial? Pois é! E que surpresa boa!

Digo isto, porque quando comprei Jardim de Escuridão na Bienal do Livro 2011, foi a própria escritora quem fez um breve resumo de sua obra. Ela explicou que o livro era um misto de romance, mistério, drama, uma dose de magia e de suspense. De cara me agradou, principalmente por causa do suspense. Mas, mesmo assim, ao olhar a belíssima capa, eu imaginei que a trama giraria mais em torno de um romance (no sentido estrito da palavra).

Que nada! rsrsrs... Bianca Carvalho esqueceu de mencionar naquele dia, que sua obra é um genuíno romance policial, sim! E dos bons!

A história começa com o falecimento de Lolla e esta deixa cartas para suas três netas. Porém, não são cartas comuns, já que as mulheres desta família, todas elas de alguma forma, têm dons especiais. E aqui, Bianca descreveu a verdadeira magia (ao menos no meu modo de compreender): o dom que nasce com a pessoa e que não precisa de rituais mirabolantes para se manifestar.

Neste primeiro volume da trilogia a protagonista é a neta mais velha, Faith, uma conhecedora das flores e de seus mistérios. É alguém que sofre por acontecimentos recentes e precisa reencontrar o caminho para a felicidade.

Nesta busca, Faith se vê envolvida em uma investigação de mortes seriais de mulheres, cujo assassino é apelidado como "Assassino das Noivas." No início, ela não consegue entender como o seu interesse e empenho naquelas mortes misterioras, poderiam alterar o seu destino. E é neste ponto que a escritora mostrou seu talento: amarrou muito bem os detalhes e tudo faz sentido no final.

Bianca é uma escritora jovem, mas denota muita maturidade. Não só pela sua escrita limpa e bem estruturada. Ela consegue construir uma trama policial consistente e sem discrepâncias, o que posso afirmar, é difícil. Pois, ao contrário do muitos possam imaginar, histórias policiais exigem um conhecimento técnico, o mínimo que seja. E ela tem muito jeito pra coisa. Digo isto, não só como escritora de suspenses policiais, mas também como profissional atuante na área penal.

Além disso, a autora parece conhecer dilemas que os policiais têm que enfrentar constantemente, tais como: noites de sono perdidas no trabalho, temperamentos oscilantes em razão de só lidarem com coisas malignas, pressão da sociedade e também a má vontade predominante que as pessoas "de bem" têm em dizer o que sabem... Como um amigo meu, da segurança pública, costuma dizer: as pessoas comuns exigem que os policiais sejam super-heróis, mas ninguém quer lhes dar super-poderes"... Bianca Carvalho, de uma forma sutil, traduz bem esta sentença.

E todo o mistério criado na resolução dos crimes, é suavizado por uma história de amor. Mas sem adoçar demais, pois não existe um abuso de emoções e o drama é na medida certa.

Também gostei de que, embora seja uma trilogia, este volume teve uma conclusão. A pior coisa, na minha opinião, é quando você fica querendo saber o fim daquilo e tem que aguardar o próximo volume. No caso da obra de Bianca Carvalho, embora haja uma continuação, houve um fim. A expectativa agora é em relação às outra personagens. Tranquilo pra mim, que consigo esperar neste caso.

Não costumo sair tecendo elogios simplesmente porque o autor é nacional e/ou porque o conheço... ou ainda porque ele ou ela podem ler o meu livro e aí haver uma "troca de boas resenhas". NÃO MESMO! Eu só elogio porque gosto e quando existem pontos negativos a serem apontados, eu faço (e gosto que façam o mesmo comigo)... ou então, quando percebo que o escritor pode se ressentir, prefiro deixar quieto. Mas Jardim de Escuridão foi, de fato, uma leitura excelente pra mim e não vou ficar inventando coisas negativas só pra parecer imparcial, pois não há necessidade disto. Estou sendo bastante imparcial. A obra me agradou muito e pronto! Posso afirmar que, dos poucos livros de colegas pátrios que conheci até agora, este está liderando!

Parabéns Bia! Te desejo muito sucesso, porque você merece! Quem tem talento de verdade merece. Jamais duvide disto!