CAPÍTULO 4
Às nove horas da manhã da segunda-feira,
Daniela se apresentava na delegacia de
homicídios e, após se identificar no balcão de atendimento, sentou-se para
aguardar o policial Douglas. Este já havia chegado, mas estava em uma
reunião. Ela lia concentradamente um livro, quando uma mulher de cabelos
escuros e encaracolados a chamou de dentro do balcão. Daniela aproximou-se e
viu que se tratava de uma colega, Vânia. A depoente, então, passou pela corrente
que delimitava a entrada e foi falar com a
conhecida. As duas se cumprimentaram no melhor estilo feminino, com
beijinhos no rosto, e Vânia perguntou:
— Você por aqui, Dani? Algum problema?
— Na verdade vou saber agora.
E naquele exato
momento, Douglas desceu do segundo andar, olhando atentamente para as duas mulheres. Elas
conversavam de forma
descontraída.
— Bom-dia — disse ele, dirigindo-se a
ambas. — Vocês se conhecem, pelo jeito.
— A
Dani se formou comigo — Vânia se apressou em dizer.
— Estudaram juntas na faculdade? —
perguntou Douglas.
Daniela olhou-o direto nos olhos e,
antes que a afobada Vânia respondesse, completou:
— Não exatamente... foi na academia de
polícia.
O policial a encarou surpreso. Em
momento algum passou por sua cabeça que Daniela também fosse policial, ainda
mais policial civil.
— Colega? — Douglas arregalou os olhos.
— Surpresa...
— disse Daniela, divertindo-se com a reação dele.
— Bem, tenho que sair agora. Depois
falamos com mais calma. Vê se não some tá Dani... — Vânia disse apressada, com
a chave de uma viatura na mão. Após, ela se despediu da colega, que ficou
observando Douglas.
— Por
que você não me disse que é colega? — ele questionou Daniela.
— Represália – a palavra proferida não
combinava com o semblante sorridente dela.
— Como assim?
— Você
não quis me adiantar nada sobre o caso, me encheu de curiosidade... aí eu
não falei. Mas, se você tivesse sido um pouquinho mais curioso, teria
consultado o sistema e descoberto — ela deu um risinho provocador, enquanto Douglas a olhava de cima a baixo.
É tão cínica, quanto bonita, pensou o próprio, dizendo em seguida:
— Pois
é, mas a minha bola de cristal estava nublada esses dias.
Ela riu diante do
sarcasmo e esperou que ele a chamasse para
interrogá-la.
— Vamos
lá? — disse Douglas. — Temos muito que conversar.
— Sem problemas... eu gosto de conversar
— ela ajeitava os cabelos enquanto andava. Tinha passos leves, quase parecia
deslizar.
— É... mas o assunto não é dos mais
agradáveis.
Ambos se sentaram e
ele começou a folhear o inquérito, instaurado naquela manhã pelo delegado titular, normalmente mais
diligente e tempestivo do que o assistente Leandro.
— Estou
aguardando... — ela relaxou na cadeira e em seguida inclinou-se na direção de Douglas. — Vou te pedir um
favor, posso?
— O que é?
— Faça seu trabalho e esqueça que sou
colega.
— Pode
deixar, eu farei — disse ele, dando um sorriso simpático para Daniela. Esta permanecia aparentemente calma, mesmo
diante de tanto suspense da parte dele.
Douglas fazia de
propósito, ainda mais agora, sabendo que
ela também era policial e nesta condição,
deveria ser uma pessoa muito curiosa. Pelo menos quase todos seus
colegas eram assim. Vendo que Douglas
demorava, Daniela começou a arrumar duas bolsas que trazia e colocou o livro
que lera momentos antes em uma delas. Douglas, embora folheasse o seu
inquérito, percebeu sobre o que tratava o livro. Chamou-lhe bastante atenção,
pois era algo sobre psicopatas. Daniela pareceu não perceber que ele vira o
título, quando Douglas chamou sua atenção.
— Leitura interessante.
— Muito — ela exibiu a capa
displicentemente.
— Você gosta deste tipo de literatura
somente ou é eclética?
— Sou eclética, mas confesso que os
vilões me atraem. Eles são um charme!
— Na
ficção pode ser, mas na vida real não — ele disse sério.
— Talvez seja porque você ainda não
tenha conhecido um vilão charmoso.
— Eu já vi muita coisa por aí, mas
vilões charmosos... ainda não. Principalmente homicidas.
— Como diz aquele comediante: “a vida é uma caixinha de surpresas!”
Douglas disfarçou o sorriso.
— Antes de começarmos, me mata uma
curiosidade: onde está você lotada? – ele referia-se ao seu local de trabalho;
se era em alguma delegacia ou outro departamento de Segurança Pública.
— Estou afastada — disse ela.
— Por quê? Algum problema de saúde?
— Não, eu entrei de licença sem
vencimentos.
— Ah... meio incomum, não? E atualmente
está trabalhando em outra atividade, suponho...
— Sim, não dá pra sobreviver sem
dinheiro — ela deu uma parada, percebendo a curiosidade nos olhos do
profissional, e continuou. — Eu recebi um legado de uma tia materna; ela só tem
um filho, que é o seu único herdeiro, mas resolveu deixar um “mimo” pra mim.
Aí, eu precisei de tempo pra administrar.
— Que legal. Quer dizer, eu lamento pela
morte de sua tia, mas sempre é bom saber que nós somos queridos e que alguém se
lembrou da gente, não é?
— Sim. E o mais inusitado é que eu não
imaginava que ela fosse fazer isso por mim, pois quase não tínhamos contato.
Minha mãe disse que ela tinha paixão por meninas e como não conseguiu ter uma
filha, acho que projetou em mim. Sei lá! — ela deu de ombros.
— Desculpe
a curiosidade, mas o que você recebeu de legado?
— Aquele
apartamento no Lins e um restaurante especializado em frutos do mar, em
Botafogo.
— Então, estou diante de uma policial e
mestre-cuca. Você não tem cara de que encara um fogão — ele imaginava a quase
polaca cozinhando.
— Na verdade, eu cuido da administração
do restaurante. Porém, devo confessar que mando muito bem na cozinha sim.
— Duvido. Você não tem cara de cozinheira.
Daniela ria com vontade.
— Eu não tenho cara de muitas coisas,
mas as aparências enganam — ela alterou o semblante, fazendo Douglas se fechar
novamente.
— Sim, enganam — disse ele, perguntando
em seguida se Daniela sabia por que estava sendo convocada.
— Não, nós já conversamos sobre isso.
— Você
conheceu uma mulher chamada Mariana Alves Andrade?
— Mariana...
— Daniela fez um olhar estranho, como se aquele nome fosse motivo de
desprezo.
— Uma morena, bem alta, moradora...
— Sei de quem está falando – respondeu
ela de forma cortante, porém suave.
— Qual era a sua relação com ela?
— Nenhuma. Ela era namorada de um
ex-namorado meu.
— Vou mudar a pergunta então: vocês eram
inimigas?
— Antes
de responder, eu posso fazer outra pergunta? Se não for inconveniente?
Apesar de ser sarcástica, Daniela era
educada e isso agradava o policial.
— Pode, mas não garanto responder agora.
— Como ela morreu?
— Eu não disse que foi ela quem morreu.
— Nem precisava, saiu em uma nota no
jornal. E, além disso, você se referiu a ela no passado — da mesma forma que
ele a observava, ela parecia observá-lo.
— Ela foi encontrada pela mãe em seu
apartamento, com ferimentos na altura do
tórax — ele observou a reação de Daniela,
que se limitou a dizer um “nossa”.
Douglas podia até mesmo acreditar, que
vira um esboço de sorriso surgindo no canto dos lábios delicados e bem
desenhados.
— E por que eu estou sendo chamada? Como
eu disse, ela não era do meu círculo de amizades.
— De inimizades, quem sabe?
Daniela permaneceu muda e com o mesmo
olhar frio e distante de sempre.
— Você está aqui como testemunha. Seu
nome foi citado...
— Pela Barbie da terceira idade, eu
aposto — disse ela, irônica.
— Quem?! — ele exclamou realmente
surpreso.
— A mãe dela – ela explicou com
naturalidade.
Douglas ficou indignado com o deboche
inapropriado, mas ao mesmo tempo teve que
segurar o riso, pois Mary se encaixava perfeitamente naquela definição.
— A Mariana tinha uma mania ridícula de
perseguição e a mãe a estimulava. Ela acreditava que eu queria reatar com o meu
ex-namorado e que a perseguia por isto. Eu
virei a inimiga número 1 daquela família... e não vou me surpreender nem
um pouco se ela tiver me acusado da morte da filha.
— E você teria motivos pra isso?
— Só se fosse um motivo fútil.
— Não deixa de ser um motivo. Teria
motivos ou não?
— Não. Mas devo confessar que ela não
vai fazer a menor falta. Pelo menos não pra mim! — Daniela jogou os cabelos
para trás e ficou enrolando uma mecha, encarando o policial.
Douglas imaginou
que ela deveria ter muita raiva da vítima ou então era uma pessoa muito fria, desumana talvez, para
falar daquele jeito.
— Então, a morte dela te deixou feliz?
— Eu
não disse isso, eu disse que ela não fará falta. E é verdade — ela olhou
direto nos olhos do inspetor. — Eu tenho muitos defeitos Douglas, mas não sou
hipócrita.
— É, estou vendo — ele sentiu uma
sensação estranha ao ouvir Daniela
pronunciar seu nome. Depois, disse: — me dá um minuto, por favor?
— Claro – ela se recostou na cadeira,
como se estivesse no conforto de sua casa.
Douglas, então, pegou o inquérito e
dirigiu-se à sala de seu colega Renato, um inspetor de sua antiga turma. Este
estava lhe fazendo um favor, ouvindo o vizinho de Mary, de nome Sérgio. Luiz
iria chegar mais tarde.
Douglas pediu licença e Renato, que parecia
estar terminando o depoimento da testemunha,
adiantou-se e saiu da sala. Ele chamou Douglas até um canto reservado
porque queria falar a sós com o colega.
— A suposta autora já chegou? —
perguntou o próprio.
— Está na minha sala — Douglas
respondeu. — O que o Sérgio disse?
— Cara...
essa Mary, pelo que você me falou, está enfeitando o pavão. Ele disse
que estava bem perto quando ouviu sim, a moça tentar murmurar algo que se
parecia com “ela” ou “erra”. A mulher já estava praticamente morta, não parecia
sequer estar falando, e ele disse que mais parecia um som de quem está
agonizando.
— Eu imaginei. E a esposa dele, veio
também?
— Ela veio sim e eu vou ouvi-la agora. O
marido disse que ela estava um pouco mais distante, mas não muito. E conseguiu
ouvir também.
— Tá
bom. Valeu pela força, Renato. Depois a gente sai pra beber uma gelada —
Douglas bateu no ombro do colega, que retornou à sala rindo.
Douglas também retornou para a sua sala,
onde Daniela o aguardava tranquilamente.
— Demorei?
— Não. Foi trocar ideias com algum
colega, acertei? — ela parecia se divertir com aquilo.
— Você é muito fofoqueira — ele
respondeu de forma jocosa, porém desviando o assunto.
— Você também parece ser.
— E qual policial não é? Faz parte do
ofício.
— É verdade. Desculpe-me, eu estava só
brincando — Daniela se divertia com um isqueiro, acendendo e apagando a chama.
— Cuidado, pode se queimar.
Ela levantou os olhos, da chama para o
policial, e disse:
— Sem
problemas, eu gosto de brincar com fogo... queimaduras machucam, mas são
excitantes.
— Eu
já percebi que você gosta de brincar. Até em momentos sérios... um humor
negro, não?
— Cinza
talvez... humor negro é algo démodé.
Ultrapassado, sabe? — Daniela guardou o isqueiro.
— Onde
você estava no dia... — ele fez uma pausa para procurar a data nos autos
— no dia 25 do mês passado?
— Caiu em que dia da semana?
— Uma quinta-feira.
— Ai... — ela deu um muxoxo. — Eu não me
lembro do que vesti ontem, que dirá de algo que ocorreu há mais de uma semana!
— Daniela fez um gesto com a mão, pedindo
para ele esperar e continuou. — Pela manhã eu estava no restaurante,
como de costume... acho que foi no dia que a Kika foi pra minha casa. Na hora
do almoço, lá pro meio-dia, eu recebi um telefonema dela, pedindo que eu fosse
até a sua casa, porque ela tinha se desentendido com o pai... aí, ela me pediu
para ficar lá em casa. É, foi nesse dia mesmo... — enquanto fazia o relato, ela
olhava em uma agenda.
— Você ficou com ela até que horas?
— Não lembro bem, mas ainda estava
claro. Foi na parte da tarde.
— E, de lá, você foi pra onde?
— Saí com ela, nós fomos juntas pra
minha casa — disse ela naturalmente.
— Alguém viu você entrando ou saindo da
casa da Rachel?
— Acho que não, a rua estava tão
vazia... a não ser... bem, eu parei o carro em frente à residência da Kika e
quando saímos de lá, havia um guardador
passando pela rua, mas eu não sei se ele anotou a placa do carro.
— Você sabe dizer se esse guardador
trabalha sempre naquela rua?
— Não
sei, mas a Kika pode informar com certeza. Ela deve conhecê-lo, assim eu
espero. Eu vou te dar o nome completo dela, endereço e telefone... — Daniela
pegou uma folha de papel, anotou os dados e entregou ao policial, que reparou
que ela era canhota. — Mas ela ainda vai ficar uns dias na minha casa, se quiser
pode ligar pra lá.
— Ok. Então, você esteve durante toda a
tarde com a sua amiga?
— Correto.
— Como você conheceu a Kika?
— Outra amiga nossa, quase uma irmã pra
mim, nos apresentou lá na academia onde frequento.
— Academia? Você tem um corpo bonito,
sabia? — ele olhou-a de cima a baixo. — Malha muito?
— Ah, obrigada! Eu gosto de me cuidar
sim.
— E é
forte. Aliás, não pude deixar de notar que se machucou recentemente — ele se referia às manchas
esverdeadas visíveis, pois Daniela
trajava um vestido azul, não muito curto, mas que não escondia as equimoses; e seus braços estavam nus.
— Antes
que imagine que eu entrei em luta corporal com alguém... — ela sabia o
que ele poderia estar imaginando, era óbvio — estas marcas são do Pole Dance.
— Pole
o quê?
— Dança do poste — disse ela, um pouco
contrariada. — Eu detesto este termo popular.
— Que interessante. Mas isso machuca
tanto assim?
— Bastante. Eu sou muito branca, apesar
do leve bronzeado. Para não cairmos, nós fazemos muita força, nos agarramos com
as pernas no mastro. Resumindo: marca mesmo. A maioria das praticantes
coleciona muitas lesões.
— Humm... Que anel bonito! — Douglas
elogiou, referindo-se a um robusto anel prateado, com pequenas marcassitas, que
ela usava no dedo médio da mão esquerda. — Posso ver? — ele queria que ela
tirasse o anel do dedo, pois parecia estar tapando alguma coisa, um arranhão
talvez.
— Ele
está apertado demais pra tirar. Só consigo tirar quando lavo as mãos.
Mas pode olhar... — e estendeu a mão para o policial, que a segurou de leve. A
pele de Daniela era fina e delicada.
— Você tem bom gosto — disse ele,
soltando a mão dela.
Daniela gostava de acessórios; usava
pulseiras e gargantilha. Era uma mulher vaidosa, mas não poderia ser
considerada uma perua. Ela sabia dosar.
— Obrigada!
— Bem, de qualquer forma, eu vou
encaminhá-la a exame de corpo de delito.
— Tudo bem, eu não vou fazer mesmo!
Douglas não
entendia a mudança de comportamento constante dela.
— Por quê?
— Ninguém é obrigado a produzir provas
contra si mesmo, caro colega — e ela deu outro daqueles sorrisos marotos para o
policial.
— Está com medo de alguma coisa? —
provocou ele.
— Não. Sabe o que é? — de repente,
Daniela parecia outra pessoa de novo. — Eu
estou sem tempo de ir ao IML, estou trabalhando muito e estudando, além
da academia. Quando sobra um tempo, é pra descansar. E mais: estou querendo
distância de departamentos policiais.
— Fica ao seu critério. De qualquer
forma eu tenho que te encaminhar.
— Tudo bem, eu só não quero que você
pense que eu estou tentando atrapalhar o seu trabalho, pois eu jamais faria
isso — ela falava agora com a expressão bem séria.
— Você não sente falta do trabalho
policial?
Desta vez foi Daniela quem pareceu
surpresa com a pergunta.
— Não, nem um pouco — ela respondeu.
— Não gosta de ser policial, Daniela?
— Eu achei que fosse gostar assim que
passei no concurso, mas me decepcionei muito. Você ainda é de um tempo em que
se trabalhava e se conseguia resultados, pelo que os colegas mais antigos
contavam nos plantões, mas eu... Pelo menos pra mim, era como se eu estivesse
enxugando gelo.
Ele acenou com a cabeça, sabendo ao que
ela se referia e concordando.
— E quando acabar o período de licença?
Você já sabe o que vai fazer?
— Eu estou de licença só há seis meses,
vou ver se o negócio firma. Acredito que sim, pelo andar da carruagem. Acho que
devo pedir exoneração no final, não sei ainda — ela deu de ombros, mostrando
incerteza quanto àquele setor de sua vida.
— Vai dar tudo certo.
— Sim, vai dar — ela o olhou de um jeito
malicioso.
— E você, está estudando? Pós-graduação?
— Não.
Eu faço cursos preparatórios para concursos. Sou ambiciosa — Daniela
levantou uma sobrancelha e Douglas acompanhou, inconscientemente, o movimento.
— Você conhecia algum parente da
Mariana? — ele perguntou subitamente, mas sem pegá-la de surpresa. Ou, ela não
aparentou estar surpresa com a pergunta fora de contexto.
— Conheci sim, um cunhado dela, o
Márcio. Um policial militar de caráter duvidoso.
— É? Como você o conheceu?
— Ele
me adicionou no MSN. Foi logo depois que a “Marianta” começou a ter
ataques, me ofendendo a torto e a direita.
— “Marianta”? — ele olhou incrédulo. —
Outro apelido de humor cinza?
— Combinava com ela. O que ela tinha de
beleza, faltava em inteligência.
Douglas mordeu a tampa da caneta,
enquanto recostava na cadeira.
— E que tipos de “ataques” ela dava? Eu
ainda não entendi que tipo de troca de farpas vocês tinham uma com a outra.
— Nada demais. Sabe quando uma coisa
pequena toma proporções ridiculamente enormes?
Ele acenou afirmativamente com a cabeça
e ela prosseguiu:
— Então... quando eu descobri que o meu
ex-namorado, o Rodolfo, estava iniciando um relacionamento com ela, eu fiquei
muito aborrecida.
— Por que, você ainda gostava dele?
— Não era questão de gostar ou de não
gostar, só que ele foi desleal. Ele estava saindo comigo de novo, nós estávamos
pensando em reatar, aí ele fez uma molecagem daquelas. Eu não gosto que me
façam de palhaça. Eu não tinha nada contra ela, ela não sabia de mim, ele foi o
calhorda e eu queria que a máscara dele caísse. Foi só isso.
— Mas
por que você se incomodou tanto, se não gostava dele? Não era mais fácil
ignorar?
— Ele era bom de cama e eu não queria
perder isso. Bons amantes estão cada vez mais raros — ela revirou os olhos, parecendo se lembrar de alguma
cena com o ex-amante.
— Você
parece um homem falando, sabia? — opinou Douglas e pareceu pensativo.
— É a
convivência. A gente cansa de tomar porrada e começa a revidar. Aí,
vocês se ressentem.
Ele bateu com a caneta na mesa,
desconfortável com o comportamento dela. Era uma alma masculina, em certos
aspectos, em um corpo feminino.
— E aí, você resolveu atrapalhar o
namoro dele.
— Eu quis dar uma sacaneada nele, nada
demais, eu já disse! — ela mexia-se displicentemente na cadeira, aquilo lhe
parecia normal. — Ele ainda queria transar
comigo de vez em quando, dava pra perceber... então, eu aproveitei e comecei a
lhe mandar uns recados mais apimentados no Orkut, os quais ele respondia
sem reclamar. Ele nunca me pediu pra parar,
qualquer idiota percebia o que rolava entre nós dois, menos quem? A
falecida, que começou a mandar recados pra mim do tipo... “o que é meu ninguém tasca”... “inveja é a arma dos incompetentes”...
“odeio mulher oferecida”...
— E como você sabia que os recados eram
pra você?
— Porque ela mandava os recados pra mim,
diretos pro meu perfil mesmo.
— E isso te incomodava?
— Que
nada! Eu lia, ria e apagava. Era patético ver uma mulher bonita
daquelas, desesperada para não perder a galinha dos ovos de ouro.
— Por quê? O tal namorado tem tanto
dinheiro assim?
— Ele está com a vida muito bem
arrumada, posso colocar desta forma. E a Mariana era uma mulher “cara”!
Douglas percebeu uma maldade por trás
daquela afirmação e indagou:
— Como assim, “cara”?
— Eu não quero cometer uma difamação
contra uma morta. Mesmo podendo provar que é verdade, eu sei que é crime.
— E se eu te disser que não vou fazer
você assinar por esta difamação, seja lá o que você tenha a me dizer? Mas,
mesmo fora dos autos, eu gostaria de saber.
— Ela reluzia como ouro, mas era barata
como uma pirita. Eu nunca liguei para o que a Mariana falava a meu respeito, eu
estimulava até, porque ela parecia uma bobalhona
tentando me tirar do sério. Infantil da minha parte também, eu
reconheço. Só que ela não tinha o mesmo senso de humor que eu tenho e quando
viu que não conseguia me atingir, resolveu dar uma de bad girl... Aí eu não gostei.
— O que ela fez?
— Ela mandou esse tal cunhado, o Márcio,
descobrir quem eu era. Só que a mãe dela
gostava de alardear que o genro era policial e contou meio por alto para uma
amiga, que ele ia me “atropelar”. Antes que você me questione,
eu olhava os perfis deles todos sim! E minha intuição não me deixou na mão.
— Você se sentiu ameaçada? Sentiu medo?
— Eu
não esperava que ela explicasse o que seria “atropelar”,
até porque esse tipo de gente não sustenta o que diz. Tanto isso é verdade, que
o recado sumiu logo depois. Então, eu investiguei e descobri o telefone da mãe
dela, liguei para a mesma, me identifiquei e avisei que ela deveria pensar
antes de agir. Eu a alertei que o seu genro
poderia responder por qualquer coisa que fizesse comigo. Mas não deu pra falar
muito, porque a dondoca velha interrompeu a ligação. Passaram alguns
dias e o Márcio me adicionou no MSN. Ele deve ter descoberto minha profissão e
deve ter pensado melhor, como vou saber?
— E você aceitou o convite dele?
Chegaram a conversar?
— De início não. Eu pedi a duas amigas
que o adicionassem primeiro e que o
sondassem. A Kika e a Deborah me fizeram esse favor e começaram a conversar
com ele, que perguntou a cada uma delas se o conheciam de salas de bate-papo
pornôs — ela riu de um jeito sacana.
— E aí?
— Depois, elas revelaram a ele que eram
minhas amigas. Mas, mesmo assim, ele não explicou por que estava atrás de mim.
Aí, eu perguntei diretamente a ele. Eu não
gosto muito de intermediários, eu costumo falar cara a cara.
— E o que foi que ele te disse?
— Veio com um papo de “paz e amor”,
disse que queria conversar comigo e saber o que acontecia, o motivo daquela
rixa toda... Ele disse também que ele não ia com a cara do Rodolfo, achava que
ele não gostava da Mariana e que deveria ter sido mais presente naquela
história... que aquela briga entre nós deveria acabar... O Márcio fez questão
de frisar que gostava muito da cunhada, que ela era gente boa etc.
— Então, foi só essa conversa?
— Não. Ele tinha umas manias estranhas,
sabe?
— Que manias?
Daniela ficou vermelha e soltou uma
gargalhada.
— Desculpa Douglas, desculpa... —
Daniela tentava conter o riso.
— Conta, eu quero rir também — ele
estava curioso.
— É que... o genrinho perfeito da dona
Mary, como eu vou te dizer? — ela olhou para o alto, fazendo certo suspense. —
É um punheteiro virtual. Pronto, falei! — e abaixou a cabeça, rindo baixinho.
Douglas fez uma expressão de repulsa.
— Ele se masturbava pra você? É isso que
quer dizer?
— Ele fazia isso pra qualquer mulher
diante de uma câmera. O cara é um
doente! — embora ainda risse, ela falava sério. — Minhas amigas contaram que,
quantas vezes elas entrassem no MSN, quase sempre
ele estava lá: sem roupas, excitado e querendo fazer sexo virtual. Um
dia, ele teve a cara de pau de me pedir pra fazer com ele.
— Você fez?
— Eu fingi. Não liguei a minha câmera,
mas simulei que fazia o que ele pedia, só pra ver até onde ele ia. O cara sabia
quem eu era e ficou ali se expondo, você acredita? E no final, ele ainda gozou.
Foi deprimente! — agora foi Daniela quem fez uma expressão de repulsa.
— Realmente,
não parecia que ele quisesse apaziguar qualquer conflito. E você? Você
gostou daquilo? — ele perguntou, parecendo indiferente, porém mais interessado
do que deveria.
— Não, eu gosto de fazer essas coisas ao
vivo e a cores. E com homens de verdade, não com moleques — ela olhou para o
inspetor dos pés à cabeça; observou as pernas fortes escondidas sob o jeans
claro.
— Só as pessoas anormais não gostam —
ele concordou, fingindo não ter percebido o olhar audacioso de Daniela. — Eu
vou aqui ao lado, não demoro.
Dito isso e Douglas foi até a sala de
Renato, pois precisava respirar um pouco.
Estava difícil olhar para aquela mulher e não pensar em besteira. Ela não vai me desconcentrar, já saquei qual
é a dela!, ele pensou. Renato já tinha
ouvido a esposa de Sérgio e esta, praticamente, confirmara o teor das declarações do marido. Restaram dúvidas quanto
ao fato de a vítima ter afirmado, que fora uma mulher quem a golpeara. Após
obter tais informações, Douglas retornou à sua sala para liberar Daniela. Mas,
ele sabia que teria que conversar outras vezes com ela.
— Daniela... — disse Douglas, assim que
se sentou novamente — você contou sobre o Márcio, sobre esse contato inusitado
de vocês dois, mas eu tinha perguntado sobre o fato da vítima ser uma mulher
“cara” e você não me respondeu.
— Eu sei. Você precisou sair da sala. Eu
estou esperando pra concluir.
Que
fora!, pensou ele.
— Desculpe, eu te interrompi.
— Não
precisa se desculpar — ela alisou a
barra do vestido e continuou. — A
Mariana criou um perfil falso meu no
Orkut, com meu telefone, minha foto e me descreveu como uma garota de
programas. Imagino que ela tenha conseguido meus dados com aquele punheteiro
ridículo! — ela parecia irritada com o assunto e Douglas se interessava mais. —
Eu consegui que um amigo hacker
apagasse o perfil, mas foi um saco me livrar dos “clientes” que não paravam de
me ligar. O pior, é que na época, eu ainda morava com os meus pais! Dá pra
imaginar o problemão que isso me causou?
Ele concordava com o olhar e questionou:
— Por que você não registrou isso?
— Tá de sacanagem, né? Contratar um hacker foi mais rápido e eficiente. Você
sabe a dificuldade que é conseguir uma quebra de sigilo de dados e tudo mais.
Mas não coloca isso aí no depoimento, por favor. Eu só pedi a ajuda do hacker pra me livrar daquele
constrangimento todo.
— Bem, diante disso, fica a sua palavra e mais nada, pois o perfil foi
deletado. Como vou saber se isso
é verdade?
— Eu copiei o perfil, imprimi e guardei
por precaução. Se quiser, eu posso te mostrar depois. Infelizmente eu não
trouxe comigo.
— Eu quero sim. Mas, depois de deletado
esse perfil, o que aconteceu? Parou tudo?
— Não. Eu comecei a segui-la, pois
achava muito estranho que uma mulher daquela idade, com filho, morando com a
mãe, que não é rica, gastasse tanto. Aquilo não encaixava. Aí, por ironia do destino,
nem fui eu quem descobriu o que rolava, foi a Deborah. Eu mesma não consegui
pegar o furo daquela sonsa.
— Deborah é a sua amiga da academia,
correto?
— Sim.
— O que, exatamente, ela descobriu?
— A Deborah frequenta clubes de sexo,
daqueles tipos de lugares onde rola de tudo... e ela já conhecia a Mariana, de
tanto ver no Orkut. Eu não me lembro, quando
exatamente, mas ela viu a Mariana em um desses clubes, na companhia de um homem
maduro e bem apessoado. E não era o Rodolfo.
— Então, a sua amiga viu a Mariana
traindo o Rodolfo.
— Minha amiga viu a Mariana fazendo um
programa. Acho que é um pouco pior — Daniela deu ênfase à última palavra.
O policial arqueou as sobrancelhas. Ela
prosseguiu:
— Aí,
eu não me contive e dei uma chamada direta nela e no cunhado, o Márcio. Tentei falar primeiro com a
Mariana, mas a covardona desligou o celular quando percebeu que era eu.
Daí, eu falei com o Márcio, avisei que o Rodolfo ficaria sabendo quem era a
namorada dele. Eu estava engasgada com aquela
história do falso perfil, confesso. Ela me expôs pra meio mundo, por uma
coisa que quem fazia era ela! — Daniela tinha uma expressão indignada.
— Caramba, que gente complicada, hein.
— Você não viu nada. Aquela família não
presta.
Douglas ficou
pensativo, afinal, se Daniela estivesse dizendo a verdade, Mariana
poderia estar envolvida com pessoas diversas, perigosas talvez.
— Então, ela frequentava boates para se
prostituir? — Douglas seguiu com as perguntas.
— Sim. Uma das boates fica na Zona Sul e
ela era vista constantemente por lá. Depois, eu procurei saber e o gerente de
uma dessas boates me confirmou que ela era frequentadora assídua.
Douglas já se preparava para procurar o
gerente da boate.
— Você chegou a mandar algum e-mail pra
ela? Ameaçando ou ofendendo?
Daniela pensou antes de responder.
— Mandei um sim, avisando que o que era
dela estava guardado — ele se surpreendeu com a sinceridade. — Mas não era uma
ameaça de fazer algo diretamente contra ela. Eu quis dizer que contaria tudo
para o Rodolfo, coisa que ela já sabia que eu faria, pois eu já tinha avisado
ao Márcio.
— Quando posso ver o que você imprimiu?
— ele procurou amenizar o clima tenso. — Ah, sobre o que me disse a respeito do
Márcio, por enquanto não coloquei nos autos, mas pode ser que eu coloque depois.
Tem algo mais que você queira me dizer?
— Não, mas eu tenho um convite a fazer e
espero que você aceite — ela lhe entregou um cartão de visitas de seu
restaurante. — Depois de amanhã, vamos estrear um novo cardápio... aparece por
lá. Aí, eu aproveito, e te entrego o impresso. É meu convidado e, se quiser,
pode levar a esposa.
— Humm...
Ótimo, obrigado! Vou ver se consigo ir sim... mas vou sozinho, porque
não sou casado.
Ela sorriu com os olhos.
— Leva a namorada então — ela parecia
sondá-lo.
— Não tenho uma — ele guardou o cartão
no bolso da camisa. — Mas, por que está me convidando? Eu sou incorruptível! —
disse ele em tom jocoso.
— Ah, não é nada disso! É que você
parece ser uma pessoa exigente, detalhista e sincero. E quero saber a sua
opinião. É importante. Além do mais, você não me conhece direito, vai ser
imparcial em sua avaliação.
— Se eu não gostar vou falar mesmo,
hein! Devo ir à noite, pode ser?
— Não
tem problema, pode falar a verdade. Mas normalmente as pessoas têm
gostado. E você pode ir à noite sim, eu costumo sair de lá mais cedo, mas como
quero ver a reação das pessoas, vou ficar até mais tarde. O olho do dono
engorda o gado — ela se levantou e pareceu
se lembrar de algo importante. — A propósito, os laudos já estão
prontos?
— Ainda não, você sabe que demoram.
Ela concordou, balançando a cabeça.
Depois perguntou:
— É verdade, mas será que eu vou poder
dar uma olhadinha depois que chegarem?
— Só com a presença de seu advogado.
— E por que eu precisaria de um? —
perguntou ela, espantada. — Eu não encostei um dedo sequer naquela mulher. Ia
me sujar por tão pouco?
— Os autos do inquérito policial são
sigilosos. A não ser que constitua um advogado, para peticionar ao delegado,
não poderei revelar o resultado dos laudos. Mas acho que não vai ser
necessário... talvez você já saiba exatamente o
que os peritos vão dizer — Douglas provocou a depoente para ver sua reação. Ele
percebia que isto ia além de seu trabalho como policial. No fundo, ele
sentia certo prazer em provocá-la.
— É...
talvez — Daniela cumprimentou o colega formalmente, com um aperto de
mão, e saiu devagar.
— Já ia me esquecendo: parabéns! –
Douglas disse.
Daniela olhou para trás, sem entender.
— Pelo Dia Internacional da Mulher —
concluiu ele.
— Eu tinha até me esquecido — ela abriu
um sorriso bonito para o policial e
pensou no quanto era curioso estar prestando declarações naquela data.
Naquele momento, Renato saiu de sua sala para
entregar a Douglas os termos que havia redigido e ambos ficaram olhando para a
suspeita, de aparência tão singela, e que andava tranquilamente até chegar à
rua. Ao abrir a porta de vidro da delegacia,
Daniela se virou, na certeza de que
Douglas ainda a observava. Ela deu um aceno de mão, acompanhado de um
sorriso quase inocente.
Douglas retribuiu o gesto, quando Renato, numa
curiosidade escancarada, comentou:
— Bonita né?
— É... bastante! Mas vai me dar
trabalho.
— Tem cara de insaciável mesmo — Renato
era um tanto rude quando o assunto era mulheres.
— Eu estou falando do homicídio, seu
babaca!
— Ah, mas será que foi ela? Se ela for
inocente, aproveita pra dar uns pegas depois.
— Vai
procurar o que fazer, vai? Tá pensando que sou igual a você? Rei das pensões
alimentícias! — Douglas referia-se ao fato de o colega ter filhos com
mulheres diversas.
— Não sei não, mas ela te deu mole, não
deu?
— Claro que não — Douglas procurou
mostrar seriedade, mas logo se lembrou da suspeita enrolada na toalha e, pra
piorar, das indiretas que ela jogava o tempo todo durante as suas declarações.
— Ela é simpática, só isso.
— Caralho!
Na minha época “simpática” significava outra coisa. Deixa de ser
sonso... eu te conheço, seu puto!
Douglas riu, não dava pra enganar
Renato.
O delegado Leandro chegou
naquela hora e chamou Douglas para conversar em sua sala. Ele sabia
que, apesar de sua autoridade, o agente era muito mais sagaz do que ele. E pra
piorar, Douglas gostava do que fazia, o que dificultava
para o delegado manter uma imagem respeitável perante os outros policiais.
Por outro lado, Leandro sabia que precisava dele, pois sozinho não chegaria a
lugar algum. Só que ninguém mais precisava saber disso. Mas todos sabiam. Ele não iria se aborrecer com seu
subordinado, ele era bom demais, mas também não iria deixá-lo
sobressair. Afinal, ele era a autoridade policial, ele era a estrela do “show”.
— Eu
conversei com os peritos, pedi que dessem uma atenção especial ao caso — disse o delegado, enquanto
tirava o blazer. Douglas pensou em como ele conseguia vestir aquilo em
pleno verão do Rio de Janeiro. — A moça não era alguém importante, mas namorava
um comissionado do Governador. E parece que
este tem laços de amizade com o mesmo, não é um mero funcionário.
— Pois é doutor, mas ele mesmo parece
não estar se movimentando muito. Eu já conversei com ele por telefone e o cara
parece um iceberg.
— Ele é muito ocupado, mas vai cooperar.
Fica frio.
— Mas quando era pra comer a moça ele
tinha tempo, né?
O delegado arregalou os olhos,
perguntando em seguida:
— Que bicho te mordeu?
— Nada não — Douglas fez uma pausa. — E
eles deram alguma previsão da entrega desses laudos?
— O
laudo cadavérico deve ficar pronto em uma semana e os demais devem
chegar daqui a uns três dias, só que não são oficiais. Eles vão adiantar os
resultados para prosseguirmos sem perda de tempo.
— Tudo bem. Mas enquanto isso, eu
gostaria de retornar ao local do fato. O senhor me acompanharia?
— Mas pra quê? O local já foi desfeito.
— É,
mas mesmo assim pode ter passado algum detalhe despercebido. A mãe não
voltou ao apartamento desde que tudo aconteceu, ela está na casa da filha do
meio e esta poderia nos acompanhar.
— Eu acho desnecessário, mas você é quem
sabe. Se ela nada opuser... — querendo fugir daquela diligência, Leandro deixou
o inspetor agir por conta própria.
— Eu vou sim. Vou ligar pra Isadora e
combinar, eu não acredito que a Mary se oponha.
— E a tal Daniela? O que achou da
suspeita?
— Estranha,
mas ao mesmo tempo não parece ser uma pessoa mentirosa. É explícita até
demais.
— Explícita? — Leandro não entendeu a
colocação.
— É
uma mulher feminina, porém com mente e certas atitudes masculinas.
— Sapatão?
— Duvido
muito — Douglas riu com vontade. — Mas gosta de brincar, isto é nítido nela,
que não faz a menor questão de esconder o que tem de pior. Ela deixou
bem claro que ficou indiferente à morte da vítima. E pra completar, ela é
colega.
— O quê? — perguntou Leandro, assustado.
Ele temia que uma delegada estivesse envolvida num caso daqueles.
Douglas percebeu que
alguns delegados eram assim: quando pegavam um erro, por menor que fosse, por
parte de um agente, tinham um prazer sádico em punir... mas quando a coisa era
com algum deles, aí o
corporativismo falava mais alto.
— Ela é inspetora. Ainda vai fazer oito
anos de casa e está de licença sem
vencimentos. Está trabalhando em outra área e precisou se afastar, pra
se dedicar à nova atividade.
— Bem, pelo menos, se ela perder o
cargo, e caso consiga uma liberdade provisória, já tem trabalho certo — mais
uma vez, Leandro tentava ser engraçado sem conseguir atingir o seu objetivo.
— Mas quem garante que tenha sido ela?
— E quem mais seria? A vítima só a tinha
como inimiga declarada.
— Isso
mesmo, inimiga declarada. Quem pode afirmar que não tivesse inimigos
ocultos? Quem pode dizer que não foi um estupro seguido de morte?
— Não, ela não foi molestada sexualmente
— Leandro logo se arrependeu do que dissera.
— Pensei
que o perito não tivesse adiantado nada — Douglas percebeu que o delegado queria ser mais esperto do
que ele e isto talvez significasse que o orgulhoso jovem poderia, a
qualquer tempo, tirá-lo daquele caso por pura vaidade... ou insegurança.
— É...
ele comentou isso porque eu cogitei dessa possibilidade com ele, também,
por telefone...
Douglas observava o
delegado, que se sentindo extremamente
desconfortável com sua mancada, pediu licença e saiu, alegando que precisava
falar com alguém.
O
policial pensou que já estava era na hora de se aposentar, pois não aguentava mais tanta vaidade, tanta
incompetência e tanta falta de humildade. Mas, aquela era a sua vida e,
de certa forma, como seria se largasse tudo? Que bestas ele iria caçar? Aquilo
ainda lhe dava prazer, quando solucionava um caso Douglas se sentia realizado.
Ele precisava daquilo, pois sua vida andava um tédio desde o falecimento de sua
esposa. E como um autêntico cão de caça, ele não viveria sem suas raposas.
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....Mel na chupeta ? Eu já estava roendo as unhas dos pés !
ResponderExcluirrsrsrsrs
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