Trilha sonora

domingo, 18 de setembro de 2011

LEITURA DIRETA, EM RODEIOS


Pra começar, adorei quando comprei o livro na Bienal 2011 (aliás, comprei os livros, pois junto adquiri Irresistivelmente Fatal, do mesmo autor) e constatei que é tamanho pocket e não muito extenso. Isto porque há épocas em que gosto de ler livros maiores e mais detalhados, o que não retrata o momento atual. Em Cicatrizes de um Segredo, eu me deparei com um estilo de escrita rápido, que não cansa, quase nos moldes de um roteiro, de tão direto que é.

Temos um dilema na trama, quando Ricardo perde a confiança em seu melhor amigo de infância, Martim, acreditando que este o traiu e furtou suas joias de família, escondida em uma sala secreta de uma universidade onde ambos estudaram. Desde o início, fica claro para o leitor da culpabilidade ou não de Martim.

Então, entra em cena outro amigo de ambos, Otávio Medeiros, que se tornou detetive particular e resolve dsvendar o misterioso furto. Digo misterioso, pois além de o ladrão entrar em uma sala que, supostamente, somente Ricardo e Martim conheciam, ele retornava ao local do crime e deixava pistas enigmáticas, confundindo ainda mais o detetive e os dois amigos. Aliás, aquelas contas me deixaram tensa, kkkkk... Matemática, arghh! Mas foi uma grande sacada do autor.

O desfecho é interessante e nos faz pensar no quanto o mundo dá voltas, não importa quantos anos se passem, não importa quantas gerações sucedam. E ainda temos outra surpresa, logo após a autoria do crime ser revelada; e esta parte final dá um toque de aventura à trama, que até então segue sem sobressaltos.

É uma boa trama policial, recomendada com orgulho, até porque amo histórias policiais, tanto é que as escrevo também. Logo, me senti em casa, rs. Porém, tive dúvidas quanto a certos aspectos ligados ao fator polícia investigativa e procedimentos. Isto não é relevante para quem busca uma leitura prazerosa e instigante, como é o caso de Cicatrizes de um Segredo, mas se torna importante para aqueles leitores que gostam de se mantem informados e esclarecidos acerca do trabalho policial; neste caso o da nossa Polícia Civil.

Uma questão é o fato de Otávio Medeiros ser um detetive particular e ter um acesso tão aberto à perícia e à delegacia de polícia. Não sei como é a estrutura da Polícia Civil do Sul, logo, estou somente questionando e não julgando, mas o normal é um acesso bem restrito. Um detetive particular não tem elo algum com o Estado e por esta razão não poderia solicitar perícias tão facilmente a um perito oficial. Talvez o autor pudesse ter dado a entender que Medeiros tinha muitos amigos na polícia, que era um excelente colaborador e quando precisava estes retribuíam com favores... Nós que somos da área, sabemos que isto acontece, mas não a troco de nada. Senão, fica a errônea impressão de que um particular trabalha diretamente com os órgãos de segurança pública e tem acesso a laudos oficiais livremente, o que não acontece, salvo nos casos de trocas de favores, como já citei.

Entretanto, quando ocorre uma prisão na história, o autor a descreve muito bem: Medeiros, que não tem Poder de Polícia (por não ser agente policial), ao relevar a autoria do furto, pede aos verdadeiros detetives que prendam a pessoa. Ficou dentro da realidade.

Ai, retorno à questão do detetive particular, quando no final é mencionado que Medeiros retornou à delegacia onde trabalhava... Neste caso, surgiu de novo a dúvida se Medeiros era somente um detetive particular que trabalhava informalmente como colaborador (X-9) da polícia ou se, além de seus serviços particulares, também era servidor público. Às vezes acontece: o policial faz "bicos" diversos, como segurança e até mesmo como detetive particular. Ficou esta interrogação.

Outra questão que fugiu um pouco da realidade, foi o fato de uma cena de nítida legítima defesa de terceiros, ter sido tratada como um flagrante comum. Pelo que vejo na rotina policial, a pessoa em questão responderia a um inquérito sim, até para apurar e constatar a legítima defesa e a absolver sem dúvidas. Mas não seria tratado (a) como um (a) homicida doloso. Muito menos algemariam, já que a situação era peculiar e a pessoa não demonstrava periculosidade.

Estou apontando estas questões, não para desmerecer a obra, até porque GOSTEI BASTANTE, que fique claro! E sim para levantar discussões positivas acerca da literatura policial, suas particularidades, e saber do autor o que ele realmente quis dar a entender; se ele preferiu deixar estas margens de interpretação livres para cada leitor; se, por se tratar de uma ficção, ele preferiu alterar até mesmo certos detalhes da rotina policial, enfim... Temos poucos escritores brasileiros nessa área e até agora tenho gostado das obras que li. Posso citar Vides Júnior e Carllos Santos, Sérgio Pereira Couto e agora o Márcio Scheibler.

Este último tem uma escrita muito boa, um Português limpo e uma maneira dinâmica de narrativa. A ideia central da trama é legal e no geral, dá orgulho a quem escreve o mesmo gênero literário. Pena que seu livro acabe tão rápido... Ele poderia ter rebuscado mais, sem encher linguiça (em momento algum ele faz isto, como eu disse, seu estilo é bem direto), para que o leitor degustasse mais devagar de uma trama tão boa. Acho que quando gostamos do livro, não queremos que ele acabe, não é mesmo? rs

Então, leiam Cicatrizes de um Segredo, pois é uma leitura que vale à pena. Agora, vou partir para Irresistivelmente Fatal!

Parabéns ao escritor brasileiro Márcio Scheibler por sua obra!



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