Trilha sonora

sábado, 29 de setembro de 2012




SINOPSE


            Você acredita em destino?
Laura é uma sedutora mulher que se candidata a um emprego de babá. A tradicional e imponente família Lutz é o alvo de um crime, onde Laura desempenha importante papel. Tomando conta de uma criança triste e carente, ela descobrirá que a família visada não é tão respeitável e que esconde segredos inimagináveis. E aí, caça e caçador começam a se confundir.
Mais uma vez, o policial civil Douglas Ferreira e seu parceiro Renato se envolvem em uma investigação que lhes revelará o quanto as pessoas mais insuspeitas podem ser sórdidas e diabólicas.  Além de investigar o desaparecimento de uma menina e as razões de um suicídio, naquela mesma família, Douglas descobre novos crimes envolvendo os Lutz. Ele se depara com seu caso mais incomum de serial killer e, pra dificultar mais o seu trabalho, enfrenta outros inimigos mais perigosos: seus colegas de profissão!
Neste segundo thriller policial, Fernanda Borges continua surpreendendo o leitor com personagens ambíguos, reviravoltas e muito, mas muito suspense e mistério. O Reverso do Destino aborda crimes cruéis, revelações bombásticas, traições e as várias facetas do destino de uma pessoa.

QUEM COMANDA OS PRÓPRIOS ATOS TORNA-SE MESTRE DE SEU DESTINO.


AVISO IMPORTANTE:

Este livro contém SPOILERS do suspense policial ORGASMOS FATAIS!!! Se ainda pretende ler meu  primeiro romance, aconselho a não iniciar a leitura desta degustação de O REVERSO DO DESTINO, para não acabar com o suspense do primeiro livro.


CAPÍTULO 1

            Laura caminhava apressadamente pelo calçadão da praia da Barra da Tijuca, na altura do posto 2, enquanto, ao mesmo tempo, tentava admirar a paisagem litorânea da Cidade do Rio de Janeiro. Fazia exatos cinco dias que o Brasil havia sido eliminado das quartas de final da Copa do Mundo de 2010. Apesar dessa derrota nacional, Laura não estava nem um pouco abalada, já que ela não era muito chegada a esportes. A jovem agora aproveitava o sol mais ameno de julho, que combinado com o vento que lhe agitava os longos cabelos cor de mel, parecia acariciar sua pele clara e levemente corada. Invejava aqueles que aproveitavam a praia durante a tarde. Eram pessoas que, provavelmente, não precisavam trabalhar. Privilegiadas, pensou com certo desprezo.
            Mas sorria, comparando mentalmente os corpos seminus ao seu. Embora tivesse um físico invejável, naquela quarta-feira, Laura tinha que esconder suas formas sob vestes apropriadas para uma entrevista de emprego. Ela tentaria ocupar uma vaga de babá. Pelo que lhe fora informado, a família era tradicional e, por isso, escolhera um vestido social mais comportado, combinando com o par de sapatos de salto médio e de cores neutras; nada chamativo e tampouco confortável. Os cabelos levemente ondulados estavam presos em um rabo de cavalo comportado, harmonizando o visual com pouca maquiagem. Entretanto, sua maior dificuldade era esconder o rebolado carioca; porém, sabia que teria de se esforçar, pois não poderia perder aquela oportunidade de emprego, com um excelente salário, além da chance de mudar a sua vida.
            Parou a caminhada frenética por uns instantes, ao avistar um apart-hotel conhecido, onde residira durante um tempo, em circunstâncias bem diferentes da atual. Isso acontecera há quase dez anos, ela ponderava, mas as lembranças eram bastante nítidas.
            Laura sorriu discretamente, com certo ar de aversão ao olhar aquele prédio; colocou novamente os óculos escuros e continuou sua caminhada até o endereço visado.
            Ao avistar o prédio luxuoso onde o casal contratante morava com seu único filho, suspirou; seus olhos escuros brilhavam diante do que via: suntuosidade discreta, se é que poderia combinar palavras tão antagônicas. Mas era assim que percebia aquele local; bem diferente do apart-hotel onde residira há quase uma década.
            Ela respirou profundamente e entrou pela portaria, onde um funcionário de meia idade, trajando um uniforme impecável de porteiro a atendeu. A jovem exibiu seu documento de identidade e se apresentou:
            Sou Laura Montenegro. A senhora Sandra Lutz está me aguardando – sorriu amavelmente e o porteiro retribuiu com outro sorriso, tocando o interfone da cobertura dos Lutz.
            Ele aguardou cerca de trinta segundos, anunciou a chegada da candidata e liberou-a até o elevador social.
            Pode subir – disse e conduziu-a, abrindo gentilmente a porta do elevador que, para alívio de Laura, estava vazio. Ela detestava entrar em elevadores lotados, com pessoas curiosas, que, muitas vezes, tinham a mania de tentar puxar assunto, só para tentarem saber o que o visitante fazia no prédio.
            – Boa sorte na entrevista – desejou o porteiro e sorriu novamente.
            Obrigada.
            Laura esfregava as mãos, ansiosa, enquanto o elevador subia num deslizar quase imperceptível. Ao parar no andar da cobertura, saiu devagar e observou atentamente a decoração requintada do corredor, onde um silêncio frio e mórbido reinava. Mesmo assim, desejava aquele requinte... ainda que somente em seus sonhos.
            A campainha soou melodiosa e agradável e, em menos de vinte segundos, foi recebida por uma mulher de baixa estatura, cabelos curtos e castanhos e pele branca. Esta estava na faixa dos cinquenta e poucos anos e tinha semblante severo. A governanta a conduziu até um sofá confortável da sala de estar e pediu que aguardasse um pouco. Enquanto esperava, Laura admirava a decoração da residência. A predominância das cores dos móveis e das cortinas era de tons pastel, o que deixava o ambiente amplo, porém sem características muito marcantes. Dois quadros de pinturas abstratas conferiam um pouco de vivacidade ao ambiente. Mais uma vez, Laura achou um tanto sem personalidade. Em uma estante, divisou três porta-retratos, mas preferiu não se levantar para olhar mais de perto; poderia ser chamada a qualquer momento e não queria passar a impressão de ser bisbilhoteira, justo em sua entrevista.
            Ajeitava a barra de sua saia, quando a governanta retornou e pediu que a jovem a acompanhasse até onde Sandra Lutz a aguardava. A cobertura era linda, parecia que a candidata estava em um cenário de novela; tudo perfeito, decoração em mármore, lustres luxuosos, enfim... tudo o que amava, almejava e nunca tivera em sua vida simplória. Atravessaram um longo corredor e pararam em frente a uma porta. Ao abri-la, a governanta anunciou Laura e uma voz feminina e extremamente suave, mas melosa demais, convidou-a a entrar. A reação de ambas, candidata e entrevistadora, foi simultânea e similar:
            Você é a Laura? – Sandra perguntou sorrindo, parecendo estar satisfeita. – Será que somos parentes?
            Já que a senhora mencionou, que coisa não?
            Eram parecidas e ambas notaram a semelhança.
            Será um sinal? – A Sra. Lutz parecia ser uma mulher simpática, o que ajudou a quebrar o gelo.
            Tomara – Laura retrucou e cumprimentaram-se informalmente. A moça achou isto incomum, pois, geralmente, mulheres de classe social alta não eram tão sociáveis com empregados, muito menos com meros candidatos.
            Bem, sente-se.
            A empregadora era uma mulher de 31 anos, enquanto a outra ainda tinha 28, mas pouco se percebia a diferença de idade, que também não era considerável. Ambas tinham a pele muito clara, a de Sandra um pouco mais dourada de praia; eram aloiradas e com cortes de cabelos similares, altura e compleição física aproximadas. Na verdade, a dona da casa tinha os cabelos uns dois tons mais claros do que os de sua entrevistada, porém, isto não fazia muita diferença. Embora não desse para confundi-las, poder-se-ia dizer que eram parentes. Entretanto, apesar da semelhança física, Laura tinha um olhar mais penetrante e intenso, uma expressão mais séria e, às vezes, sarcástica, ao passo que a outra parecia ser mais suave, tranquila até. A futura babá percebeu de imediato que era analisada discretamente, mas não da maneira como costumava fazer; segundo diziam alguns conhecidos, às vezes, Laura tinha o dom de desconcertar as pessoas com seus poderosos olhos negros.
            A entrevistadora parecia compenetrada e a pretendente ao cargo ficou quieta, até que a outra terminasse de ler e iniciasse suas perguntas:
            Você teve experiência como babá com uma família somente?
            Sim, na verdade eu precisei trabalhar como babá, porque meu pai ficou desempregado e foi uma oportunidade única e providencial na época. Eu não podia esperar até que aparecesse algo na minha área de formação.
            É, estou vendo que você é formada em Letras.
            Respondeu com um movimento discreto e afirmativo com a cabeça e Sandra parecia aprovar.
            – Mas por que, então, procura novamente emprego como babá?
            Laura abriu um imenso sorriso e respondeu:
            Eu amei cuidar de crianças. Nunca imaginei que fosse gostar tanto.
            E vai abrir mão de suas ambições? Você sabe que, por melhor que seja sua remuneração como babá, não terá como evoluir profissionalmente.
            Eu sei...Sua expressão ficou tristonha de repente e isso não passou despercebido.
            O que foi? Eu disse algo que não deveria? – Sandra perguntou, aparentando preocupação.
            Não, é que eu não estou à procura deste emprego pelo dinheiro. Eu preciso...
            Sim? – A dona da casa arqueava as sobrancelhas, curiosa.
            Eu perdi um filho ainda bebê e cuidar de crianças me faz muito bem, entende?
            Oh! Eu sinto muito... O olhar foi compreensivo e ela engoliu em seco antes de prosseguir. – Tão nova e já passou por isto?
            Pois é...
            E o seu marido?
            Visivelmente interessada no assunto, Sandra inclinou-se mais para frente, dando-lhe total atenção.
            Eu sou solteira – respondeu meio sem jeito. – Foi um descuido na época.
            Ah, entendo, desculpe.Ela ajeitou os cabelos e, apesar do sorriso cordial, parecia desconfortável. Afinal, aquela candidata lhe trazia à tona recordações que não vinham ao caso, bem como recordações de si mesma, de fatos similares que também a atingiam.
            – Bem, qual é a sua disponibilidade? Eu preciso de alguém que more aqui.
            Sem problemas, eu posso ficar. – Laura sentia que ganhava terreno.
            Você tem família?
            Só a minha mãe, mas ela não mora no Rio de Janeiro.
            E onde você mora atualmente?
            Pensou antes de responder:
            Em uma pensão, no Centro da Cidade. Eu dou aulas de Inglês e não dá pra pagar nada muito melhor.
            Entendo... – Sandra pensava, girava a bela caneta dourada entre os dedos elegantes, enquanto Laura permanecia firme. Contudo, estava inquieta por dentro.
            – Seria interessante o Marcelinho ter aulas de Inglês – disse de repente.
            Marcelinho?
            Sandra acenou a cabeça afirmativamente, diante da pergunta de Laura.
            Como ele é?
            Um amor de menino. Tem 11 anos, mas é bem inteligente para a idade. Só é um pouco tímido – Sandra descrevia o menino mecanicamente.
            Eu posso conhecê-lo?
            A outra deu de ombros e concordou:
            E por que não agora? Venha comigo, ele está jogando videogame no quarto. É um inferno fazer essas crianças largarem esses jogos – disse rindo, enquanto Laura a seguia. – O pior é quando ele gruda os olhos nessas séries policiais de TV!
            Sandra era um tanto efusiva, Laura a analisava melhor agora. A futura patroa andava rapidamente à sua frente pelo corredor dos quartos e a jovem olhava o ambiente, sempre muito atenta. Cada detalhe a despertava, como se buscasse algo por trás de tudo aquilo. A dona da casa abria a porta do quarto do menino, enquanto a encarava. Ambas pareciam se estudar cordialmente. Sandra entrou e chamou a criança, que estava de costas para a porta, sentado em uma poltrona e estava jogando videogame, como ela dissera. Quando Marcelo se virou para as duas mulheres, a futura babá viu que o garoto era muito bonito: tinha uma pele clara, cabelos castanhos escuros e lisos, cortados estilo “Romeu” e olhos tão pretos quanto jabuticabas. Ele estava vestido como um adulto, trajando calças jeans e camiseta azul de mangas compridas, apesar do calor da cidade. Talvez fosse pelo ar condicionado forte do quarto, imaginou.
            Marcelinho, esta aqui é a Laura – anunciou, com o tom de voz um pouco mais alto do que o normal.
            O garoto parecia ser realmente tímido, mas era educado. Aproximou-se da moça e, inesperadamente, deu-lhe um beijo no rosto, fazendo Sandra se espantar.
            Muito prazer, Dona Laura – ele respondeu e encarou a candidata direto nos olhos. Isso a incomodou um pouco, embora não soubesse por quê.
            – Você é lindo, sabia? E pode me chamar só de Laura.
            O garoto deu um meio sorriso e ficou parado, sem dizer mais nada. Quando ela fez menção de dizer algo mais para puxar conversa com Marcelo, foi chamada para fora do quarto pela dona da casa. Despediu-se do menino, que continuou de pé, olhando as duas saírem.
            Já do lado de fora do quarto, Sandra confessou:
            – Estou impressionada. Ele nunca fez isso.
            – Isso o quê?
            – Te deu um beijo! Ele nunca chega nem perto das candidatas, parece ter medo de todas.
            – Que bom, pelo menos não o assustei – riu aliviada, mas achou incomum a mãe estranhar a reação do filho. Parecia que conhecia tão pouco o garoto.
            – Muito bom mesmo.Sandra a encarava de cima a baixo. – Olha, eu acho que podemos fazer uma experiência, que tal?
            – Jura? Eu acho ótimo! – Laura relaxava agora.
            – Então, vamos lá no escritório pra terminar de conversarmos sobre alguns detalhes, inclusive seu salário, é claro.
            Então, as duas jovens mulheres conversaram sobre o serviço que seria prestado à família, bem como sobre os benefícios aos quais a funcionária faria jus. Após dar as coordenadas sobre a função, Sandra lhe fez uma última exigência:
            – Bem, Laura, eu não te escolhi à toa. Sua formação em Inglês me atraiu bastante, porque quero que o Marcelinho aprenda a língua inglesa, mas não gosto muito de cursinhos; prefiro que pratique no dia a dia, sabe?
            – Sei, mas como seriam as aulas? – Ela estava confusa, pois imaginara que seria tão somente uma babá e não uma professora de Inglês.
            – Você terá que se comunicar com ele somente em Inglês.
            – O tempo todo?
            – Sim. Ele tem umas poucas noções e se adaptará. Além disto, viajaremos nas próximas férias para a Europa e quero que esteja preparado. – Sandra enrolava uma mecha dos cabelos, enquanto falava. – Mas fique tranquila, pois este serviço será pago à parte.
            – Como a senhora quiser.
            Embora Laura achasse estranho aquele jeito de lidar com o garoto, já que iria morar ali durante um tempo, não daria palpites. Afinal, seu propósito naquela casa era outro. A criança era tão somente um meio, o gancho que precisava para entrar e permanecer ali por algum tempo.
            – Então... – Sandra parecia entusiasmada. – Você pode vir e trazer suas coisas amanhã. Estarei te esperando... Ah, e você conhecerá meu marido. Ele volta de viagem amanhã também.
            Werner Lutz era empresário e não passava muito tempo com a família, em razão de constantes viagens de negócios.
            – Estarei aqui no horário combinado – afirmou, sentindo-se triunfante.
            Após se despedir e deixar o prédio, Laura saiu esfuziante pelo calçadão. Soltou os cabelos e agitou-os para se livrar um pouco daquela aparência careta. Ela estava louca para contar as boas novas para o seu namorado Leonardo, que também aguardava ansioso sua ligação. Ligou de seu celular para o dele, que atendeu apressado:
            – E aí, gata, conseguiu? – A voz meio arrastada e com um leve tom adolescente, revelava sua ansiedade.
            – Claro, neném... – respondeu, mexendo nos cabelos, ficando com um ar mais selvagem e natural.
            – A “pata” caiu. O terreno é nosso, baby!

4 comentários:

  1. Ja comecou deixando gosto de quer mais.
    Cade o proximo capitulo?
    Quero continuacao! hahahah

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    Respostas
    1. hahahahaha... Ainda bem que deixei a curiosidade no ar. Bem, pretendo postar semanalmente, até o sétimo capítulo. O livro tem 26 capítulos no total e garanto que o suspense é mantido, bem como as surpresas, até a última página!

      Fique de olho, pois semana que vem tem mais!

      Beijos e obrigada por comentar.

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  2. Caraca a Laura ta armandooo! Adorei o primeiro capítulo, indo ler o outro rs.

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